sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Desabafo.


Acredito que o ex-presidente Lula nunca imaginou que isto aconteceria.

Olá. Talvez você não me conheça, mas me tornei um criminoso em Foz do Iguaçu. Meu crime? Estudar na UNILA.
Para chegar a Foz do Iguaçu, tive que fazer várias escolhas. Já sou graduado, lecionava nas escolas estaduais de meu estado e havia sido aprovado em dois ótimos concursos públicos que tinham como salário inicial, algo em torno de, dois mil reais mensais. Entretanto, em meados de 2010 conheci, pela internet, a UNILA e me apaixonei por sua proposta de integração latino-americana. E desde então, me preparei para iniciar outra graduação.
Ou seja, até esta fase de minha vida sempre fui um cidadão comum. Contudo, diante dos acontecimentos constantes contra alunos desta instituição fica claro que algo esta errado.
A alguns dias, pela manhã, estava preparando um café, no andar térreo. E quando volto ao meu quarto me deparo com um policial em minha porta. Muito educado ele solicita meus documentos, pois no dia anterior alguns outros policiais trouxeram uma intimação (relativos aos acontecimentos de junho) e esqueceram-se de pedir que algum morador assinasse. Até ai tudo bem. Entretanto começamos a conversar e ele me perguntou:
-Foi esta a moradia da confusão?
Respondi:
-sim.
-Você estava no meio?
-Eu estava no aniversário.
-Nossa que confusão hein, eu vi pela televisão.
-Foi feio mesmo, não estamos acostumados a isto.
Então, ele disse:
-Eu seria mais radical, pois falo apenas uma vez...
Nesse momento me dei conta que existe certo ódio, preconceito, etc formado contra nós. Esta ameaça velada, disfarçada contra o mais fraco. Somos reféns do medo.
Escrevo isto por que ficamos sabendo por terceiros, que “estamos marcados”. O órgão que deveria nos proteger quer acabar conosco, nos expulsar da cidade, nos maltratar. Eu tenho família, amigos que me amam e se preocupam comigo, Deixei toda uma vida para trás para vir morar e estudar em Foz do Iguaçu. Tenho medo da cidade e de sua violência, muitas vezes preferimos ficar dentro na moradia a  sair e mesmo assim eles vem atrás de nós. Principalmente, nesta época de greves sem fim, onde o tédio é parte do cotidiano do aluno.
O problema não é o incômodo, a “bagunça”, o suposto som alto dos estudantes, o problema real é mais difícil de ser tratado e esta dentro da cabeça: o preconceito, a xenofobia o ódio contra o diferente. Pois, como uma pessoa que não nos conhece, pode saborear assim a violência dizendo que seria bem mais radical.
Nossos estudantes estão sofrendo constantes ataques, humilhações, desrespeito, etc. Declarar-se aluno da UNILA, hoje em Foz do Iguaçu, é tão perigoso quanto declarar-se comunista dentro do DOPS ou DOI-CODI nos fatídicos anos de chumbo.
Basta, quero que toda violência contra aluno estrangeiro (seja de qual fonte for) gere uma crise diplomática, quero que todo aluno brasileiro seja respeitado como um autêntico cidadão desta pátria-amada. E que a UNILA e a SAEC parem de empurrar os problemas para os mais fracos, que parem de nos humilhar dizendo que todos nossos benefícios são favores e que saibam que até o momento vocês não contribuíram em nada para a integração real, a verdadeira integração ocorre entre os alunos, de forma autônoma, durantes às aulas e durantes estas “festinhas descontroladas” que vocês tanto criticam, mas não sabem que os poucos alunos que ainda não se evadiram, apenas estão aqui graças a maior integração de todas: a amizade.